Bandeira
do PCC é estendida nos pavilhões da Penitenciária de Alcaçuz, Nísia Floresta
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No Rio Grande do Norte há simpatizantes de facções
criminosas que demonstram poder nas regiões Sul e Sudeste. No Nordeste e,
especificamente, no estado, há presos que demonstram afinidade com o ideal do
crime organizado, mas não chegam a ter a mesma organização da matriz. A
presença destas correntes não causa preocupação à polícia, que ainda assim
exerce um monitoramento intensivo para evitar surpresas desagradáveis. A
análise é do secretário estadual de Segurança Pública, Aldair da Rocha, sobre o
panorama das facções criminosas que atuam no Rio Grande do Norte. Rocha recebeu
o NOVO JORNAL em seu gabinete para comentar a reportagem que informou que o
Primeiro Comando da Capital (PCC) tenta se instalar em território potiguar
promovendo ameaças às autoridades desde 2010 até os dias atuais. O secretário
ressaltou que não identificou ameaças através dos setores de inteligência da
pasta que comanda. A reportagem “O cartão de visita do partido do crime”,
publicada no domingo passado pelo NOVO JORNAL, informou que diversas
autoridades foram alvos de intimidações, inclusive o próprio Aldair da Rocha.
“Se houve alguma coisa, ficou restrito ao sistema penitenciário. Lá, eles
também têm um grupo de inteligência e sabem informar a respeito disso aí. Eu
não sei informar porque não recebi nenhuma informação a respeito”, resumiu.
Rocha minimizou a atuação do PCC, o qual se referiu apenas como “aquela de São
Paulo”. “Temos sim notícias de pessoas que hoje se encontram presas e que são
ligadas a facções criminosas. Entretanto, como a gente sempre disse e continua
dizendo, chamamos estas pessoas de simpatizantes dessas organizações”,
ponderou. A falta de organização notada a partir da incipiência da organização
criminosa no RN leva a Secretaria de Segurança a se dizer despreocupada com a
situação. “Eles estão aqui, mas não nos leva a ter uma preocupação maior a não
ser o acompanhamento que já é feito no momento pelo nosso centro de
inteligência. A nossa coordenadoria de inteligência acompanha junto a Polícia
Federal toda a movimentação e situação que envolva as ações criminosas. Então,
não existe nenhum motivo para preocupação nesse momento”, afirmou Rocha. Para
ele, a facção busca ramificação em todo o Brasil, mas possui maior força nas
regiões Sul e Sudeste. “Essas organizações criminosas, principalmente aquela de
São Paulo, tem ramificações, como a gente sabe, por todo o Brasil, mas a força
deles neste momento é maior no Sul e no Sudeste. No Nordeste e aqui no Rio
Grande do Norte, temos noção de que existem pessoas que mantém contato com
essas organizações, mas felizmente ainda não se tem aquela organização como se
vê em outros estados”, acrescentou o secretário. A forma de atuação das facções
no Sudeste, e que tem expansão constatada em diversos estados brasileiros,
acontece no interior dos presídios. O secretário de Segurança criticou os
problemas notados nas penitenciárias de todo o país, e também no RN, que acabam
por contribui para a perpetuação do crime do lado de fora das unidades. “O
principal dos problemas é possibilitar a comunicação com o mundo exterior. Então,
quando você acaba prendendo líderes de facções ou mesmo de quadrilhas, eles
mantêm o contato com o exterior. O negócio não fica parado. Se ele é traficante
de drogas, o tráfico continua. Roubo de carro continua, etc. O crime continua
do mesmo jeito”, analisou. A solução, para ele, passa pelo combate a corrupção
entre agentes penitenciários e policiais militares, assim como aprimoramento da
tecnologia de combate desses casos. As revistas em presídios corriqueiramente
encontram dezenas de aparelhos celulares. Ele também critica a burocracia para
se tomar medidas efetivas. “A solução foi dada há muito tempo, mas infelizmente
no Brasil as coisas demoram muito e não se toma providência. A solução passa
pelo isolamento de comunicação. Existem hoje equipamentos colocados que vão
isolar a comunicação lá dentro. Isso já ajudaria muito”, opinou.
Investigação sobre ataques a ônibus caminha para a
impunidade
Em setembro de 2011, a população natalense foi surpreendida
com uma série de ataques contra ônibus. Os veículos eram invadidos, esvaziados
e incendiados. Em um dia, oito ônibus foram alvos de criminosos até hoje não
identificados. Para o secretário de Segurança, o caso tem resolução difícil. Os
ataques registrados há mais de um ano são emblemáticos por terem sido
supostamente ordenados de dentro da Penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta
– a maior do RN. Reflexo disso foi que 16 homens foram transferidos do local
poucas horas depois para unidades do Departamento Penitenciário Nacional. Sem
investigação, o Estado não conseguiu embasar o pedido de permanência dos
suspeitos nas unidades federais e a maioria deles já está novamente em unidades
potiguares. Além de ataques, os veículos também receberam a pichação com a
sigla “PCC”. Na época, a ligação com facções foi negada. Está mais difícil
saber se o caso realmente teve ou não ligação com facções. As investigações
caminham a passos lentos e provavelmente não dará resultados. “Chegou-se à
conclusão naquele momento que as ordens partiram de dentro do presídio, de alguns
deles, mas você sabe que o celular que está dentro do presídio é utilizado por
várias pessoas. É muito difícil individualizar quem é que fez o uso do
aparelho. Quando você não consegue individualizar uma situação, fica difícil
até punir. As investigações continuam, mas é bem difícil. Temos que ser
sensatos e encarar que é bem complicado identificar”, disse Aldair da Rocha.
Para o titular da Segurança Pública, o ocorrido teve início a partir de uma
discórdia entre agentes e presos. “Acredito que aqui, em 2011, tenha havido certa
discórdia entre os agentes penitenciários, que naquele momento viviam uma
situação de reivindicação, com familiares de presos”.
Reportagem informou sobre ameaças do PCC às autoridades
No
domingo passado, o NOVO JORNAL mostrou o “cartão de visita do partido do
crime”. A reportagem apurou a existência de uma série de ameaças realizadas
pela facção entre 2010 e 2013. As intimidações tinham e tem por objetivo a
imposição da força do grupo criminoso recém-chegado ao estado. Na lista de
ameaçados estavam três juízes, o secretário de Segurança, o ex-coordenador da
Administração Penitenciária, major José Deques, e o ex-delegado-geral de
Polícia, Ronaldo Gomes. Segundo fontes do NOVO JORNAL, as ameaças foram
identificadas por setores de inteligência e repassadas a autoridades através de
relatórios confidenciais de inteligência. Dos três juízes, dois passaram a
andar sob escolta. O Tribunal de Justiça não informou se a proteção permanece
ocorrendo por entender que o sigilo contribui para resguardar o magistrado.
Além das ameaças, a reportagem informou sobre a localização do novo estatuto do
PCC encontrado na Cadeia Pública Raimundo Nonato Fernandes, na Zona Norte de
Natal. O documento inclui um artigo que ordena a execução de policiais
militares, civis e agentes penitenciários para que “as covardias sejam
vingadas”.
Fonte: Novo jornal
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